deixa as pessoas olhar, os comentários não te abrandam. continua apressadamente, passo a passo, não importa a coordenação deste que te mantenhas em pé. deixa a chuva cair e o sol te queimar a pele. deixa o chão incerto e empurra-o com todas as tuas forças de maneira a voares instantaneamente. não olhas para o lado. não precisas. nenhum carro se atravessará, nenhum semáforo se atreverá a parar-te com um vermelho, eles estão do teu lado. deixa as folhas abanar, sente-as como palmas do teu rumo, felicitações como aquelas que só tu te dás ao espelho. deixa o vento soprar, está no teu sentido. ele guia-te embora saibas para onde vais. ou melhor. embora saibas para onde queres ir, o que não significa que chegarás lá. vês as saídas a passar. o teu sonho de cinco anos já vai longe, o ser astronauta acabou de te passar ao lado. o caminho das estrelas ainda te fita a tempo, mas vais demasiado rápido. o chão é como uma passadeira demasiado veloz para conseguires travar. o que podes fazer é lamentar silenciosamente a perda de um sonho, - não falas pois sabes que o ar te abafaria - e marcar um outro alvo, fazendo figas para que o vento te leve lá. mas não pares. uma vez tombado, os músculos morrem, deixam de te erguer, o coração pára, o sangue já não satisfaz as tuas sedentas células. o cérebro esquece-se dos passos, os olhos choram até secar, a pela já não respira, o desejo já não cresce, a vontade, embora muita, já não é suficiente para levantar. por isso continua. mira o horizonte. corre sabendo que não chegarás lá, mas que acabarás tentando.