estavas sentada no meu lugar, quando fui fazer o meu pedido, quando fui parlar a minha sande de atum de um euro e meio e a coca-cola. não te conheci de início. estavas com um casaco lilás, penso, aos quadrados de todas as cores suaves, batidas pelo sol. não disse nada, não sabia quem eras. esperei que o lugar ficasse vazio. rapidamente te levantas-te, apercebeste-te que as pessoas por quem a monique esperava haviam chegado. mesmo assim mantiveste-te de costas para mim. indiferente a quem assentava o corpo na cadeira que tu tomaste como tua. mas a conversa continuou, reconheci a tua voz. a tua tão singular e identificável voz. não a ouvia há muito tempo, não demasiado, o necessário apenas para me aperceber que não mudou. disse-te olá, mas ignoras-te. não me acredito que não tenhas ouvido. simplesmente não é possível. continuas-te a lançar palavras no ar, de um filme novo que saíra, tinha a ver com exorcismo. tentei então novamente, já arrependido. tu bem sabias que ignorarem-me é das piores coisas que me podem fazer. dessa vez tu desvias-te o olhar. um relance rápido, provavelmente quiseste ter a certeza que eu estava a olhar para ti. e estava, não conseguiste escapar, os outros reparariam. respondeste monofonicamente. engraveceste a voz. continuei a conversa por educação, não senti o avontade que outrora existiu. respondeste que eu estava grande, a outra ajudou, concordando. olhei em frente e rapidamente deixaste o frete. é difícil acreditar que em tempos me chamas-te de melhor amigo. é impossível de crer que desapareceste sem dar notícia. já chorei por não te ter ajudado a mudar. mas tu não querias. tu mentias-me. tu abandonaste-me. é o que todos sabem fazer melhor. sair quando se torna inconveniente. por sorte tenho sempre uma reserva. que vai trocando a cada nova aquisição. será que deposito demasiada confiança neles? mais do que a que conseguem aguentar? o que interessa é que estavas diferente, o teu olhar indiferente, a tua voz igual, os teus tiques os mesmos. mudaste de escola e pouco me informas-te. continuo a dar-te os parabéns quando assim mereces, mas não sei o que me faz continuar a preocupar. nada me dizes. mais valia conhecer-te agora. pelo menos ainda conseguiria recordar-te como uma realidade e não como um sonho que inventei na minha cabeça. talvez seria melhor assim.